Dentro do seu peito, bate aquele coração.
Não um coração qualquer. Mas um coração
especial. O coração de um romântico. Que por definição, é um coração sofredor.
Sim, meus amigos. O romântico sofre. Nada mais romântico que sofrer. E o seu sofrimento
deve ser genuinamente de “amor”. Não vale sofrer de outra coisa. Esqueça a bursite. Dispense a gastrite. Releve a artrite. A doença do romântico é o
“amorite”. Já que de amor, ninguém deve sofrer mesmo.
Mas o romântico sofre. E como é bom pra ele esse
sofrimento! Tanto, que faz questão de alardear pra todo mundo. “Ai, como eu
sofro!”. Seguido daquela cara de coitadinho. Um artigo básico do Romantismo.
Indispensável a qualquer candidato a romântico. Fazer uma cara de lambão. Depois ele solta sua frase predileta. “Ela não me ama”. Como se toda mulher
tivesse a obrigação de amar essa criatura. Na verdade, o romântico é como pinga
de roça. Bonzinho só no começo. Depois... Tudo bem, eu sei que ele realmente impressiona. Aparece com aquele buquê de rosa vistoso. Diz que te ama mil vezes ao dia. Coisa mais
fofa do mundo. O problema é que tudo isso, acredite, acaba enjoando. E depois vem
aquele pileque horroroso. A verdade nua e crua emerge. Homem carente demais não
presta. O romântico vai grudar no pé de sua amada. E não soltar mais. Ser seu
pior pesadelo. Um carrapato sentimental.
E depois dessa metamorfose. Já se sentindo
um carrapato completo. Sentimentalmente realizado. O romântico vai passar pra
“fase 2”. Ou seja, começa mesmo a barbarizar. Fazendo aquilo que mais gosta. Botar
um monte de defeito na sua amada. Já que ser feliz no amor é seu sofrimento de
verdade. E a meta agora é partir pra outra mulher que o desdenhe muuuuuito.
Devolvendo sua inseparável dor de cotovelo. Sem a qual não consegue ser...
feliz. Nem romântico.
Tudo começa com uma queixazinha
aparentemente ingênua. “Ela não me dá muita atenção”. Depois ele vai pegando
pesado. Passa a notar uma minúscula celulite. Implica com os dois quilos acima
do ideal. Com aquela cor de batom que não lhe agrada mais. E o motivo que leva o casal à primeira discussão. Ela gosta mais de mpb que de forró. Se a mulher não
mandar logo esse mala engolir os CDs de forró nem acabar com a relação. O
Romântico entra na “fase 3”. A Fase da Apelação.
Agora, some sem dar explicação nenhuma. Mas
pode ser facilmente encontrado nos bares da vida. Escutando suas canções
prediletas. Só pra não deixar esfriar aquele espírito romântico. Hinos de um
coração incompreendido. Coisas como
“Entre tapas e beijos, é ódio, é desejo. É sonho, é loucura...”. Então vai
anunciar que sua vida está uma porcaria. Que a alegria acabou. Que vai,
sim, tomar veneno de rato. Uma medida extrema para fugir desse mundo cruel. Mas
a amada pode deixar o raticida em cima da mesa numa boa. O romântico só tem
coragem mesmo pra ser um grande chato. E quando ela não agüentar mais. Terminar
com tudo. Mandar esse profissional da infelicidade pras cucuias. O sujeito
ainda vai perguntar. “Tem certeza?” E sair choramingando de fininho. Sem saber
por que as mulheres lhe desprezam. Por que não lhe dão seu devido valor.
Achando que esse mundo é insensível demais. E ele, o último romântico.
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