Muitas pessoas ficam surpresas. Fazem logo aquela cara de espanto. Aquela
cara de quem viu o cão chupando manga. Ou coisa pior. A verdade é que eu admito sem
nenhum rodeio. Não gosto de futebol. Sinceramente,
não é que eu não goste. Quer dizer, eu não detesto. Esclarecendo melhor. Eu não
tenho mesmo é ânimo. Aquela empolgação só em ver alguns marmanjos se atracando por
uma bola. Todas aquelas caretas, palavrões e hematomas. Pernas musculosas. Braços
cabeludos. Sei lá... A mulheres até dá pra entender. Muitas não escondem um atirado
suspiro. Gritos de deslumbramento. Mas para minha perplexidade completa, quem
mais gosta não são elas. Mas eles! Os outros marmanjos que arrotam masculinidade,
se comportando como verdadeiras Rapunzéis ou Julietas dos estádios. E isso é
algo difícil de entender. Pelo menos pra mim.
Quanto eu era criança e pensava como criança e agia como criança, ficar
chutando uma bola sem propósito algum, a não ser colocar
sofregamente numa rede e sair saltitando como um alucinado, tinha sua graça. Afinal,
a gente era criança. E a aparente eternidade das coisas era mais uma companheira
das nossas estripulias. Pensando bem, o que mais importava era mesmo brincar.
Perdendo ou ganhando, todo mundo se divertia. Não se jogava somente para
vencer. Claro que quem perdia acabava não gostando. Ficava chateado por algum
tempo. Fazia bico. Mas logo passava. No final das contas, a vitória não era um
fim em si mesmo. Éramos crianças, mas não éramos bestas. No fundo cada um sabia.
Era uma brincadeira. Não uma guerra de tolos e orgulhosos. Ao acabar, o mais importante
era ter corrido, suado e gargalhado juntos. Não tinha a menor graça ficar somente
assistindo aos outros jogarem. Bom era mesmo participar. E se não vencesse o
melhor, quer saber?, pouco importava. Quando todos se divertiam não havia
perdedores.
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